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Vidas negras importam, e elas precisam respirar

Por Celso Niskier 

I can’t breathe”, ou “não consigo respirar”, em português. Três palavras que, em 2020, embalaram protestos contra o racismo em diversas partes do planeta. No Brasil, na última sexta-feira, 20 de novembro, foi celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, no mesmo dia em que um rapaz negro, João Alberto Silveira Freitas, foi agredido até a morte por seguranças de um supermercado, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Acontecimentos trágicos e datas comemorativas costumam mobilizar a sociedade para pautas que, geralmente, ficam em segundo plano no nosso dia a dia. Mas vivemos em um país composto por 55,8% de negros e pardos, representatividade que não se reflete, por exemplo, nos cursos de graduação, onde essa parcela da população consiste em 32% dos estudantes.

Não preciso mencionar os impactos socioeconômicos e nem as razões pelas quais negros e pardos têm maior dificuldade de acessar a educação superior no Brasil. Todos sabemos do passado escravagista e seus reflexos no presente, incluindo uma boa dose de preconceito racial.

Mas se conhecemos essa realidade, por que ainda fazemos tão pouco para mudá-la? Toda diversidade deve, e precisa, ser valorizada. Seja ela étnica, cultural ou de ideias. Apenas para me ater ao ambiente acadêmico, são incontáveis os benefícios da riqueza multicultural em sala de aula.

Para que todo esse potencial seja aproveitado, as instituições de educação superior precisam estar atentas a questões como o estímulo à tolerância e, nos cursos de licenciatura, à formação de docentes preparados para educar com e para a diversidade.

As instituições também podem ser protagonistas dessa transformação por meio de iniciativas como o Movimento Ar – Vidas Negras Importam, encabeçado pela Faculdade Zumbi dos Palmares em parceria com a Sociedade Brasileira de Desenvolvimento Socio Cultural (Afrobras).

A ação consiste em uma mobilização voluntária com o propósito de realizar mudanças concretas para vidas negras e transformações sociais. A ABMES faz parte da iniciativa e todas as instituições de educação superior também podem fazer.

Sabemos que o setor particular de educação superior tem um papel relevante ao viabilizar a inclusão social das camadas menos favorecidas na graduação. Por isso, precisa seguir defendendo a manutenção de políticas de acesso como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (ProUni).

Por terem como foco pessoas de baixa renda, esses programas beneficiam, em grande parte, pessoas negras e pardas. Para se ter uma ideia, em 2018, 61% das bolsas do ProUni foram concedidas para estudantes negros e pardos.

Em alguns casos, o ar que falta aos negros é literal. Em outros, ele é a representação das desigualdades, do preconceito e da falta de oportunidades que incidem sobre eles. Para ambos os casos, o antídoto é a educação. Educação para a tolerância. Educação para a cidadania. Educação para a transformação social.

Um mundo mais justo e igualitário passa pela educação, e todos nós temos responsabilidade na construção de uma nova realidade na qual não falte mais ar. A ninguém.

 

Fonte: ABMES