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Se não nós, quem?

Por Celso Niskier 

No Brasil das desigualdades e contradições, quase 40% dos professores que lecionam nos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e 30% daqueles que atuam no ensino médio não possuem a formação adequada para a disciplina que ensinam. Os dados fazem parte do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, divulgado na última semana pelo Todos Pela Educação em parceria com a Editora Moderna.

Entre as justificativas para esse cenário estão, nitidamente, aquelas que refletem a desvalorização do docente brasileiro, como os baixos salários e dificuldade de progressão na carreira. Entretanto, o Todos Pela Educação indica outro elemento determinante para esse desempenho: o conteúdo excessivamente teórico na formação inicial.

Responsável por 62% das matrículas e 70% dos concluintes dos cursos de licenciatura, o setor particular de educação superior consiste em agente estratégico para a transformação desse quadro, o que impactará na qualidade da educação básica e, consequentemente, na melhor formação do estudante que chega às nossas instituições. Ganham as pessoas, mas, sobretudo, ganha a nação com uma população mais educada e preparada para fazer girar a engrenagem do desenvolvimento socioeconômico.

Se a incidência sobre aspectos como salários e carreira é algo que vai além do alcance do setor, uma olhada atenta para a formação desses profissionais nos coloca no centro do debate (e da responsabilidade). Levantamento realizado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), em parceria com a Educa Insights, mostra que apenas 8% dos alunos de cursos presenciais estão em licenciaturas. Nesse contexto, entre 2010 e 2017, houve redução de matrículas em todas as áreas do conhecimento. Já no universo da educação a distância, os estudantes de licenciatura representam 40% do total, com crescimento nas matrículas em todas as áreas no período acima mencionado.

Além de atentar para o perfil do estudante de licenciatura e suas preferências, o setor particular de educação superior precisa lançar mão de prerrogativas como a flexibilidade para a reformulação dos currículos. Romper com a percepção de formações teóricas e maçantes por meio de metodologias e tecnologias mais inovadoras, investir na residência pedagógica em parceria com as redes públicas estaduais e municipais e incluir práticas baseadas em evidências científicas nos currículos é algo que precisa estar no escopo e na missão de todo empreendedor educacional.

A disponibilidade do setor particular de contribuir, de forma decisiva, para a melhoria da qualidade da educação básica está expressa no documento “Educação Superior Brasileira e Inclusão Social: Contribuições do setor particular para o desenvolvimento do país”, produzido pela ABMES e entregue ao Ministério da Educação em janeiro deste ano. Ali, além de reconhecer a melhoria desse nível educacional como elemento imprescindível para o progresso da nação, o setor ressalta sua capacidade de colaboração em dois eixos estratégicos: formação de professores e gestão das instituições de ensino.

Mais do que um tratado de boas intenções, o documento foi pautado pela percepção da realidade e pela compreensão de que sem o setor particular de educação superior a tão necessária transformação na educação básica não acontecerá. Das nossas instituições saem os profissionais que regem os ensinos infantil, fundamental e médio. Das nossas instituições precisam sair as pessoas que vão promover a revolução educacional que conduzirá o Brasil a novos patamares de qualidade de vida e bem-estar da sua população.

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Celso Niskier é  Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e Reitor do Centro Universitário UniCarioca

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