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Alfabetização científica: o aluno é o agente do aprendizado

Por Monalisa Oliveira

A alfabetização científica é um conceito muito discutido, mas ainda pouco aplicado. Compreende uma articulação entre educação escolar e construção da cidadania, levando em conta a importância da apropriação de conhecimentos científicos e de sua aplicação na sociedade e na resolução de problemas cotidianos.

Sob o viés da alfabetização científica, a educação escolar passa a dar condições ao aluno para que investigue e tenha uma visão crítica diante da realidade. É uma forma de fazer com que se aproprie de conceitos científicos como ferramenta de comunicação em práticas sociais, com conexões com o conhecimento científico e o mundo ao redor. As pessoas críticas se tornam capazes de desenvolver pensamento lógico e habilidade de argumentação.
As respostas às questões levantadas pela alfabetização científica se dividem basicamente em três grupos: o primeiro aborda aspectos relativos ao interesse dos educandos pelas ciências; o segundo, à interação das ciências aos aspectos sociais do aluno; e o terceiro, à compreensão científica da vida em um contexto geral.

Com base no conhecimento adquirido, é possível fazer com que a criança reflita sobre possíveis soluções para desafios, cabendo ao professor o papel de mediador, apoiador. Considera-se essencial desenvolver a alfabetização científica desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, antes mesmo de o aluno dominar o sistema de escrita, já que essa abordagem pode auxiliar nos processos de aprendizagem por descoberta e de aquisição da escrita futuramente, bem como ampliar o acesso à cultura.
Ainda não é possível afirmar que o trabalho de campo seja a melhor maneira para ensinar ciências nos anos iniciais. Porém, a literatura científica sinaliza vantagens dessa metodologia quando trabalhada com crianças pequenas. De acordo com artigos científicos atuais, essa dinâmica de trabalho é menos cansativa e, ao mesmo tempo, mais prazerosa, possibilitando que o aluno comece a descobrir o mundo a partir de suas próprias experiências fora dos muros da escola. Em outras palavras, situações de aprendizagem em sala de aula podem ter menor impacto do que a riqueza de estímulos sensoriais que atividades em espaços não formais.

Trabalho de campo associado ao uso de recursos tecnológicos também são capazes de proporcionar às crianças a obtenção de informação confiável, trazendo como maior benefício o imediato contato com conceitos científicos. Ajuda a aproximar os alunos da ciência, despertando o interesse sobre termos e assuntos, mostrando-se ser uma estratégia útil para chamar a atenção dos participantes.

Como forma de comprovar a eficácia da tecnologia/trabalho de campo na alfabetização científica, desenvolvemos no mestrado em Novas Tecnologias Digitais na Educação da UniCarioca, com apoio do Nucap (Núcleo de Computação Aplicada), o aplicativo “Sítio Roberto Burle Marx”. O software se propõe a ser uma ferramenta eficaz de apresentação automática de espécies botânicas dentro do espaço do Sítio Roberto Burle Marx (SRBM), disponível gratuitamente para quaisquer dispositivos móveis Android, na plataforma Proxximal.
O app reúne quatro seções em seu menu principal: locais do sítio, que possibilita ao usuário a exploração dos ambientes do SRBM, bem como de suas plantas; plantas do sítio, que oferece ao usuário uma busca rápida por plantas do banco de dados; tour interativo, que apresenta na ordem em que estão dispostas as atrações do ambiente físico; informações, seção que apresenta conteúdos contextuais e históricos relativos ao SRBM.

É importante destacar que o aplicativo sozinho, quando utilizado em aula sem a existência de um contexto, pouco acrescenta em termos de inovação. A investigação realizada pelos alunos – situação que envolveu uma saída a campo, o manuseio da tecnologia e debates sobre o cultivo de espécies botânicas – é que estimulou os participantes a negociarem constantemente novos significados.
Como consequência, todas essas experiências juntas, inclusive a utilização do aplicativo, fizeram com que os alunos aperfeiçoassem o seu desempenho comunicativo. Notou-se, ao fim da pesquisa que os participantes utilizaram palavras e termos cada vez mais específicos e próprios das ciências. Isso significa que o aplicativo, quando utilizado de forma adequada, tem potencial para influenciar as crianças.

Então, é possível constatar que as pessoas alfabetizadas cientificamente tem uma visão mais abrangente da realidade, são capazes de utilizar diferentes plataformas e ferramentas à sua disposição e chegar às suas próprias conclusões. São capazes de se apropriar de forma crítica do conhecimento, interpretá-lo, gerar atitude e agir de forma efetiva na sociedade. A alfabetização não é uma imposição, mas uma descoberta.

 

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Monalisa Oliveira é Diretora-Adjunta na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME-PCRJ) e Mestre em Novas Tecnologias Digitais na Educação pela UniCarioca